O BLOQUEIO À RÚSSIA PODE LEVAR A ECONOMIA MUNDIAL À RECESSÃO?
Posted on 23 de março de 2022
Ainda não recuperada dos impactos da pandemia da covid-19, a economia mundial volta a ser ameaçada pela guerra entre Rússia e Ucrânia que traz riscos para uma economia mundial que ainda não se recuperou totalmente do choque pandêmico, acabando com as esperanças de recuperação projetada no início do ano.
Os cenários de inflação, desabastecimentos e desvios de mercados não esgotam as possibilidades e podem afetar os mais diversos países e setores em um curso de elevada incerteza. Entre os pontos de maior preocupação em nível mundial, destacam-se a explosão do preço das matérias-primas o aumento generalizado do preço do barril do petróleo, do gás e dos derivados, provocando uma elevação da inflação global, que já está bastante alta, e o aumento no preço dos grãos, com efeitos sobre os preços da proteína animal.
A Alemanha está em posição particularmente sensível no cenário atual, pois depende da Rússia para obter cerca de dois terços das suas necessidades de gás natural.
Para o Brasil, é importante considerar, como potenciais efeitos do conflito geopolítico: a oportunidade de exportar milho para a China, mercado até então pouco explorado no país; os efeitos sobre as importações de trigo, já que Ucrânia e Rússia são grandes fornecedores e o desabastecimento por esses países pode elevar os custos de produção, elevando ainda mais o preço dos alimentos.
Autoridades nos Estados Unidos, Europa e Reino Unido esperam minimizar os efeitos das sanções sobre suas próprias economias permitindo a continuidade de transações financeiras internacionais russas ligadas ao setor de energia e alimentos.
Apesar de a exclusão do sistema Swift provavelmente ter forte impacto para a Rússia, há um sistema alternativo chamado SPFS (sigla para Sistema para Transferência de Mensagens Financeiras), criado pela Rússia após a crise da Crimeia em 2014.
Em apenas quatro semanas, da invasão russa, aumentou consideravelmente os riscos à economia, admitiu a presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde. Ele inclusive reduziu em 0,5 ponto sua previsão de crescimento para a zona do euro em 2022, agora em 3,7%.
Incluindo-se o impacto na conta de energia, o acolhimento de refugiados e o apoio em dinheiro, a guerra deve custar até 175 bilhões de euros à União Europeia, calcula o economista Jean-Pisani Ferry, do Instituto Bruegel.
Para Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados, o principal risco da “guerra econômica” contra a Rússia continua sendo o de uma maior pressão inflacionária que leve os bancos centrais de todo o mundo a uma alta de juros mais enérgica. “São sanções em cima de um país que tem um peso econômico frágil, mas que tem um peso em commodities relevante”, observa Vale
Impulsionada principalmente pelo aumento do preço da gasolina após o início da guerra na Ucrânia, a inflação nos Estados Unidos atingiu em fevereiro um novo recorde: 7,9% nos 12 meses até fevereiro, maior índice acumulado desde janeiro de 1982.
Vamos refletir: … Por que os preços disparam? Há um ano, a inflação vem aumentando: em um primeiro momento, pelas perturbações nas cadeias de abastecimento; e agora, devido à explosão do preço das matérias-primas, que sobrecarregam os custos de produção das empresas e o poder de compra das famílias.
Sob forte estresse, o sistema financeiro russo pode não ser capaz de honrar suas obrigações, alertou o banco J.P. Morgan em relatório emitido no final de fevereiro (28/2). Isso teria consequência sobre instituições financeiras de outros países, credores de dívidas russas.
Além disso, a nova rodada de sanções mantém a pressão sobre o preço de commodities como petróleo, gás natural, trigo e milho, e insumos agrícolas (fertilizantes), com impacto adicional sobre uma inflação global que já vinha muito pressionada pelos efeitos da pandemia.
O Fundo Monetário Internacional (FMI) alertou em sua reunião no final de setembro que o endividamento mundial dos Países atingiu níveis recordes, e supera os índices da crise de 2009, o que representa um risco para a economia mundial.
O endividamento deve prosseguir crescendo após a aprovação nos Estados Unidos de uma reforma fiscal que provocará um crescimento do déficit orçamentário em um trilhão de dólares nos próximos três anos, elevando a dívida do país a 116% do PIB até 2023.“O mundo se encontra 12% mais endividado que durante o recorde precedente, em 2009”, lamenta o FMI, que atribui o aumento sobretudo a China, que representa 47% do crescimento da dívida desde 2007.
Pensando estrategicamente: Nos países desenvolvidos, a dívida está em 105% de seu PIB, o nível mais elevado desde o fim da Segunda Guerra Mundial, e nos países emergentes alcança 50%, uma proporção inédita desde a crise da dívida dos anos 1980, que atingiu duramente as economias em desenvolvimento. “Um endividamento e déficit importantes reduzem as capacidades dos governos de responder com políticas orçamentárias que reforcem a economia em caso de recessão”, destacou o FMI. Os países emergentes poderiam ser as primeiras vítimas. Caso os Estados Unidos aumentem de maneira mais rápida que o previsto as taxas de juros, os países emergentes sofreriam as consequências.
O conflito Rússia X Ucrânia pode tirar pontos de crescimento da economia mundial em 2022, por conta desse impacto de inflação e juros. É provável que haja um crescimento que fique abaixo dos 4% a 4,5% estimados pelo FMI e Banco Mundial, para algo mais próximo de 3% a 3,5%.
Para Sergio Vale, a possibilidade de uma recessão global só se tornaria mais palpável caso o conflito se generalize, deixando a esfera restrita da Ucrânia, caso a Rússia se sinta empoderada a estender sua ação rumo a outros países.
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