Cadeia alimentar do desemprego brasileiro
Posted on 10 de agosto de 2019
O desemprego é adotado como uma forma de mensurar a saúde econômica de um país. Segundo dados do IBGE, a taxa de desemprego no Brasil caiu para 12% no segundo trimestre de 2019, junto com o rendimento médio habitual da população, que hoje é de R$2.290. Na contramão dos declínios, o número de trabalhadores informais aumentou 3,4%.
Nosso país está enfrentando o pior tipo de desemprego: o estrutural. Ele é caracterizado pelo desequilíbrio entre a oferta e procura de mão-de-obra disponível no mercado. Nos últimos anos, os postos de trabalho são inferiores à quantidade de trabalhadores desempregados, gerando uma preocupante instabilidade na economia nacional.
Esse desajuste requer intervenção por parte do Estado, uma vez que essa parcela de trabalhadores em busca de emprego precisa ter condição mínima para sua subsistência. A fim de garantir o poder de compra dos consumidores desempregados, o governo intervém através da sua política monetária, controlando a inflação a partir da taxa de juros.
A inflação geralmente está ligada ao aumento contínuo e generalizado dos preços, denominada como inflação de custos. Ela acontece quando os insumos necessários para a produção de bens e serviços encarecem, e esse custo elevado de produção é repassado para o consumidor final. Um bom exemplo é a alta no preço da energia elétrica e da gasolina.
Apesar da inflação causar sérios transtornos à economia de qualquer país, sabe-se que é um sistema comum das economias em crescimento. Quem não lembra da inflação brasileira de 5.000% ao ano, em meados de 1993 e 1994? O fim das eras de hiperinflação no Brasil se deu com a criação do Plano Real, durante o governo Itamar Franco.
O Plano baseou-se no equilíbrio das contas públicas e na desindexação da economia – a inflação não corrigia mais os preços e salários. Entre as medidas para controlar os preços, o governo também incentivou as importações e adotou as âncoras cambial e monetária. Em 1999, essas âncoras foram substituídas pelo regime de metas de inflação, tendo a Selic como a balizadora desse objetivo.
De forma resumida, os juros são uma espécie de “aluguel” de dinheiro. A taxa de juros é uma compensação paga pelo tomador do empréstimo para ter o direito de usar o dinheiro até o dia do pagamento. Caso os juros do país estejam altos, o consumidor tende a comprar menos, porque o valor do aluguel será mais caro. Esse movimento reflete na queda da inflação.
No Brasil, a Selic é a taxa básica de juros e corresponde à remuneração que o Banco Central paga aos seus credores. Ela determina o nível de consumo do país, pois influencia os juros de todas as operações econômicas. É a partir do seu índice que as instituições financeiras definem quanto cobrarão por empréstimos às pessoas e empresas.
Quando há redução da taxa Selic, a tendência é que as empresas invistam seus recursos no financiamento de suas operações, aumentando a produção e contratação de pessoal, por exemplo. Isto deve-se ao fato de que o retorno do investimento pode ser maior do que o valor de empréstimo praticado pelo governo.
Simultaneamente, as famílias têm acesso à crédito mais barato para consumir. Isso resulta em uma elevação da atividade econômica, riqueza e do índice de emprego do país, através do aumento da demanda e oferta de produtos e serviços. Todavia, uma taxa Selic baixa tem, como efeito colateral, o aumento de preços – inflação.
Pensando estrategicamente… quando um país enfrenta uma situação de desemprego, isso afeta a sua produção econômica. Ter uma taxa de desemprego baixa indica que há um superaquecimento na economia, ou seja, é um sinal de que ela está produtiva, gerando riqueza e fomentando o mercado de trabalho.
O cenário de inflação comportada e juros nas mínimas históricas, com o alívio nas taxas finalmente chegando ao consumidor final, impulsiona a confiança na economia no curto prazo. No médio e longo prazos, é possível aumentar a oferta e, com isso, a produtividade e os investimentos. Para tanto, devem-se aprovar reformas que reduzam os gastos públicos e o consumo privado.
Desvinculação do uso de receitas governamentais, redução de gastos obrigatórios, uma política mais realista para o salário mínimo e uma reforma da Previdência poderiam contribuir para o aumento da atividade econômica, com isso gerando novas vagas de trabalho, contribuindo assim para a redução do desemprego.
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