BRASIL: Retrospectiva 2018
Posted on 29 de dezembro de 2018
Na última semana, falamos sobre os aprendizados que 2018 rendeu sobre nosso país. Hoje, comemorando a publicação do 100º artigo, falaremos sobre todas as situações – positivas e negativas – que foram cruciais para o desenvolvimento desses aprendizados e que foram pautas neste espaço de discussão.
2018 foi o ano em que a Crise dos Refugiados se intensificou e tomou proporções nunca antes vistas: os conflitos no Oriente Médio, as crises socioeconômicas dos países subdesenvolvidos e o apogeu dos governos totalitários foram as principais causas da alteração dos fluxos migratórios. E os problemas, como era de se esperar, não cessam quando se alcança o destino final, já que os refugiados continuam vítimas do desemprego, da miséria e da violência – desta vez, motivada pela xenofobia e por discursos de ódio dos moradores locais. A mensagem que fica é a de que, quando os problemas são ignorados, eles encontram uma forma de serem vistos, e o ciclo da violência e da miséria continua se reinventando e se perpetuando. Afinal, é mesmo um crime tão grave almejar o mínimo de dignidade humana e qualidade de vida?
Vivemos, também, a “caça às bruxas” da corrupção, que alcançou seu auge com o aumento das operações da Lava Jato. Falamos sobre o ato de enxugar gelo e a “arte” de defender culpados, e sobre a necessidade de se fazer a Justiça em nome da moral e, acima de tudo como forma pedagógica, contribuindo para a educação e a evolução cultural de nossa sociedade. Por isso, clamamos por um país onde haja “uma Lava Jato em cada esquina”, dando início ao projeto “Brasil passado a limpo”. Só assim seremos capazes de inverter os valores de nossa sociedade corrompida, responsável por naturalizar e diminuir os impactos de comportamentos corruptivos.
Essas situações se encontraram potencializadas pelo conflito interno dos Três Poderes, cenário que também tomou grandes proporções em 2018. Os embates ficaram cada vez mais complexos e emblemáticos: brigas internas se tornaram mais frequentes, tendo tido cada vez mais repercussão nos noticiários e na agenda pública – um reflexo direto de como a crise política afetou os três poderes em suas totalidades. Os meios de comunicação, inclusive, chegaram a cravar uma possível “guerra” entre os poderes, onde todos buscam sair por cima e o partidarismo e os interesses nacionais se sobrepõem ao bem comum.
Vivenciamos, também, a divisão do Brasil, com a equivocada política do “nós contra eles”. Esse cenário, mais uma vez, colocou a preocupação pelo bem comum e pelo bem-estar da Nação em segundo plano, dando lugar a interesses de grupos – com o maniqueísmo político demonstrando cada vez mais aspectos negativos e desinteressantes à sociedade. Vivenciamos um cenário de guerra, com comportamentos que limitam as capacidades dos agentes de transformação social (líderes políticos, de movimentos sociais, etc.) de receber e processar críticas, mas também de efetuar a autocrítica, desconstruindo e problematizando suas ações, pensamentos e posturas diante do cenário sociopolítico do país.
E é claro que esse cenário tomou proporções descomunais com a chegada do evento do ano: as Eleições. Nas proximidades da ocasião, debatemos sobre o uso indevido da internet e das redes sociais no processo eleitoral, a veracidade das pesquisas e seus impactos na escolha dos eleitores, as cifras bilionárias do Fundo Partidário, o papel da imprensa durante e após as eleições e, é claro, sobre a difícil tarefa dos brasileiros de escolher o melhor dentre os piores.
Mais recentemente, abordamos a difícil tarefa do próximo presidente em “escalar” a seleção perfeita para o grande desafio de retomar o crescimento econômico e a dignidade dos brasileiros que sofrem com a extrema pobreza.
Pensando estrategicamente, nesse conturbado contexto que se desenhou ao longo de 2018, é razoável não esperarmos, sob a ótica da recuperação da atividade econômica, grandes milagres do Presidente da República pelos próximos quatro anos. Devemos desconfiar daqueles que apresentam planos mirabolantes e soluções mágicas, com promessas fáceis e passagens tranquilas pelo terreno pantanoso das insanidades que temos visto ultimamente. O que estará em jogo, daqui em diante, é a garantia da continuidade do processo democrático e do Estado de direito, com a consolidação dos preceitos das garantias individuais e o respeito ao que estabelece a nossa Constituição.
Cabe ao próximo presidente, em primeiro lugar, reestabelecer a união da sociedade brasileira, apesar das fortes diferenças e visões alternativas para a sociedade brasileira e para o país. O Brasil deverá continuar a ser uma sociedade aberta, plural, solidária, receptiva aos imigrantes, voltada para a luta contra as desigualdades e compromissada com o combate a toda e qualquer forma de preconceito e exclusão.
Urge o reestabelecimento do diálogo entre governo e sociedade. Necessariamente, é uma tarefa governamental a pacificação do país, bem como o reestabelecimento das regras republicanas de governo e de convívio entre os poderes da República. Da mesma forma, o fomento aos símbolos e valores que transcendam o curto prazo se fazem essenciais para o novo ano que se inicia. Esperamos, independentemente da ideologia política, um presidente da República que exerça o papel de guia, irradiando confiança e cultuando valores que ajudem a criar um país melhor e uma sociedade comprometida com a solidariedade e a defesa da justiça para os excluídos.
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