O efeito voo de galinha na economia brasileira

Posted on 29 de março de 2017

Você já viu uma galinha voar? Ela até tenta, mas o máximo que consegue são pequenos voos, que além de serem a curta distância, são baixos. A galinha dá uma espécie de “convulsão” de voo, mas na prática, não alcança seu objetivo.

É assim que a economia brasileira tem se comportado. Com “espasmos” de crescimento, mas que sempre se travam em tristes situações, como a corrupção exacerbada. Dessa maneira, o País se tornou aspirante à excelência na prática desse voo, em que há muito barulho e curto alcance.

Se em 2009 éramos o País do futuro, e inclusive fomos capa da renomada revista britânica “The Economist”, com a imagem do Cristo Redentor fazendo alusão a um foguete, com o título “Brasil Decolando”, hoje figuramos como um barco à deriva.

A impressão que se tem é que, quando começamos a alinhar as soluções dos problemas econômicos desse País, surge um fato que nos deixa estagnados. É como se o Brasil fosse um prisioneiro de uma armadilha, construída por nós mesmos, de baixo crescimento.

Quando apontamos para um crescimento estável, somos surpreendidos por grandes operações, como a Lava Jato – com suas 38ª fases – tendo como última a Operação Blackout – chamada de Operação Catilinárias, que remete aos discursos célebres do orador romano Cícero contra um senador que planejava tomar o poder. Nela é investigado o desvio de dinheiro público para enriquecimento próprio de vários acusados, incluindo o último presidente da Câmara Federal que se encontra preso; e agora, a não menos espantosa operação “carne fraca”.

A corrupção política parece estar sendo punida – ou ao menos investigada – com mais veemência, e isso nos dá uma esperança de tempos melhores. A população vai às ruas reivindicar seus direitos. Os nossos representantes começam a entender que não somos meros espectadores. E nesse momento, entramos em um voo de galinha na corrupção empresarial: o escândalo da carne, que nada mais é do que a tentativa de fraudar as licenças de exportação, ferindo a sanidade e segurança alimentar.

O assunto é preocupante, afinal a exportação de carne é um dos grandes impulsionadores da economia. Após 9 dias da divulgação desse escândalo, 22 países e blocos econômicos suspenderam total ou parcialmente a compra da carne brasileira, entre eles, Hong Kong, o maior importador no ano passado. A Associação de Comércio Exterior do Brasil estima que haverá perda de um bilhão nas exportações do produto em dois meses. Claro que ainda é cedo para avaliações, mas a perspectiva dos especialistas é de que a cadeia produtiva pode sofrer consequências, afetando um dos pilares da economia brasileira: o agronegócio.

A decisão de Hong Kong se soma à da China e do Chile, segundo e terceiros maiores cliente de carnes de boi e de frango. As compras desses três países representaram, no ano passado, 40% das exportações brasileiras de carne bovina. Em carne de frango, os envios para China e Hong Kong representaram 20% do total, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.

Agora, a dúvida que permanece é: Qual será o próximo escândalo que irá afetar a retomada do nosso crescimento? Vamos realmente reafirmar os nossos constantes voos de galinha na economia?

Esse “péssimo hábito” somente será banido e substituído por um crescimento sustentável, quando fizermos reformas que modernizem e simplifiquem nosso Estado, desonerem os custos da atuação empresarial, e apostarmos em ações para potencializar as importações e especialmente as exportações – ao contrário do que está acontecendo agora.

Na verdade, se pensarmos estrategicamente, a exemplo do que está acontecendo com a carne atualmente, precisamos refletir sobre o controle de qualidade dos nossos políticos, antes de tudo. O foco é outro. É necessário que nossas instituições políticas se fortaleçam e que a mera disputa pelo poder se restrinja às eleições.

Mesmo depois de duras e amargas lições, parece que não aprendemos. Não haverá “bolo” a ser distribuído, se não houver trabalho para produzi-lo. Se analisarmos, é simples! O papel do governo é o de incentivar o processo produtivo, viabilizando condições para que a economia possa se desenvolver e funcionando como agente regulamentador e fiscalizador das atividades empresariais – as chamadas agências reguladoras funcionando a todo vapor, sem as amarras hoje existentes.

Da nossa parte, cabe uma reflexão sobre quem colocamos no poder e como cobramos dessas pessoas e daqueles que investigam e punem aqueles que corrompem a nossa sociedade, e consequentemente a nossa economia.

(*) Analista de negócios – professor universitário.


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