CRISE MUNDIAL: PAÍSES DECLARAM INFLAÇÃO COMO PRINCIPAL INIMIGA

Posted on 30 de junho de 2022

A ONU estima que, depois de mais de dois anos de pandemia, a guerra na Ucrânia é a maior causa do maior aumento no custo de vida para uma geração, ampliando o risco de conflitos civis e protestos sociais. O alerta foi publicado no início do mês de junho, apontando que a inflação nos preços de alimentos e de energia pode levar bilhões de pessoas a uma situação de miséria.

Segundo o levantamento, a crise apresenta-se em duas facetas. A primeira é a redução da receita das famílias e governos. Hoje, 60% dos trabalhadores contam com uma renda abaixo da que tinham antes da pandemia. 60% dos países pobres vivem uma dívida impagável e as economias emergentes somam um déficit de mais de US$ 1,2 trilhão para conseguir atender às demandas sociais.

A Comissão Europeia, braço executivo da União Europeia, afirmou que a inflação é a principal preocupação após dados mostrarem que os preços nos 15 países da região subiram 3,7 por cento em maio na comparação anual, taxa recorde.

Autoridades monetárias ao redor do mundo são unanimes ao afirmarem que o avanço da inflação é a principal ameaça que enfrentam, em um momento de crescente pressão por aumento dos juros e protestos contra o encarecimento do custo de vida.

A inflação na zona do euro, assim como nas demais localidades, é impulsionada pelos custos de alimentos e energia

O presidente da Coréia do Sul, Lee Myung-bak, disse que o surto inflacionário é o maior desafio à economia em cerca de 30 anos.

Ministros de Finanças de Estados Unidos, Canadá, Japão, França, Alemanha, Itália, Grã-Bretanha e Rússia, em um encontro recente, alertaram que os preços altos das commodities devem prejudicar o crescimento, mas não divulgaram nenhum plano para acalmar os mercados financeiros.

Protestos de caminhoneiros, pescadores e outros grupos particularmente vulneráveis ao aumento dos custos de energia têm eclodido nas últimas semanas ao redor do mundo.

A inflação é também a maior preocupação para a Ásia, disse à Reuters o diretor-gerente do banco de desenvolvimento da região, Rajat Nag, já que ameaça acabar com os ganhos no combate à pobreza.

Reflitam comigo: De acordo com a ONU, o índice de preços de alimentos da FAO está em níveis quase recorde e 20,8% maior do que nesta época do ano passado. Com US$ 120 por barril, os preços da energia em geral devem subir 50% em 2022 em relação a 2021. O preço do gás natural europeu em particular aumentou dez vezes em relação a 2020. No mundo, entre 2019 e 2021, 30 milhões de pessoas perderam o acesso ao combustível de cozinha limpa e o número global agora é de 2,4 bilhões que não têm acesso.  

Os preços dos fertilizantes são mais que o dobro da média entre 2000 e 2020, gerando o temor de que a crise se prolongue em 2023. “Se os altos preços dos fertilizantes persistirem na próxima estação de plantio, a atual crise do trigo e dos óleos vegetais poderá se estender a uma crise do arroz, afetando bilhões de pessoas a mais nas Américas e na Ásia. Enquanto isso, cerca de 4,1 bilhões de pessoas carecem de proteção social e o crescimento do PIB mundial caiu de 3,6% a 2,6%.

“Essa catástrofe vem sendo construída há anos, mas desde o início da guerra ela se tornou insuportável para muitos países”. “Em 2022, entre 179 e 181 milhões de pessoas estão previstas a enfrentar uma crise alimentar ou piores condições. Espera-se que mais 19 milhões de pessoas enfrentem a subnutrição crônica no mundo em 2023”. Desde 2019, o número de pessoas que enfrentam pobreza extrema e insegurança alimentar aguda, que aumentou em 77 milhões e 193 milhões, respectivamente. “O aumento da fome desde o início da guerra pode, de fato, ser maior e mais difundido”, alerta a ONU.

A Entidade estima que, em apenas dois anos, o número de pessoas com grave insegurança alimentar dobrou de 135 milhões de pessoas pré-pandêmicas para 276 milhões no início de 2022. Espera-se que os efeitos da guerra na Ucrânia elevem este número para 323 milhões em 2022. No caso da América Latina, a região deve registrar um aumento de importação de alimentos de 28% em valores, o maior entre todos os continentes. Outro problema é a restrição ao comércio, imposto por vários exportadores de alimentos.

Segundo a ONU, a escala das restrições atuais já ultrapassou o cenário experimentado durante a crise de preços de alimentos em 2007/08, afetando 17,3% do total de calorias comercializadas globalmente e agravando ainda mais a fome. Desde o início da guerra em 24 de fevereiro de 2022, 109 medidas restritivas à exportação foram implementadas. Entre elas está a proibição da exportação de fertilizantes e certos produtos alimentícios, tomadas por 63 países.

Enquanto isso, os custos de transporte marítimo são mais do triplo da média pré-pandêmica, devido aos efeitos da crise da covid-19 e à destruição da infraestrutura de transporte na Ucrânia.

Pensando estrategicamente: … de acordo com a ONU, há um ciclo perverso. Os preços mais altos da energia, especialmente do diesel e do gás natural, aumentam os custos de fertilizantes e transporte. Ambos os fatores, por sua vez, aumentam os custos de produção de alimentos, é o caso do Brasil. A consequência é a redução do rendimento agrícola e a preços ainda mais altos dos alimentos na próxima estação. “Estes, por sua vez, aumentam a inflação, contribuindo para o que já estava aumentando as pressões das taxas de juros e apertando as condições financeiras. O temor da entidade é de que esses ciclos viciosos criados por uma crise de custo de vida também podem desencadear instabilidade social e política. “Uma inflação mais alta significa preços mais altos de alimentos e energia, e um custo de vida mais alto. Isto, por sua vez, reduz a renda real das famílias e, com isso, seu padrão de vida e suas oportunidades para um futuro melhor”, alerta. Num total, a entidade estima que 1,7 bilhão de pessoas vivem em países severamente expostos a pelo menos um dos três canais de transmissão da crise, ou seja, o aumento dos preços dos alimentos, o aumento dos preços da energia e o aperto das finanças.


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