Black Friday e o consumo consciente

Posted on 15 de dezembro de 2018

Na penúltima quinta-feira do mês de novembro (28), aconteceu o evento que mexe com os corações – e com as carteiras – dos cidadãos do mundo inteiro: a Black Friday. Nós a conhecemos por aqui como um dia de promoções inacreditáveis onde podemos “abrir a mão” sem culpa alguma. Entretanto, a Black Friday possui um histórico ainda mais relevante, mercadologicamente falando. A data é marcante para o comércio norte-americano porque inaugura a temporada de compras natalinas e conta com significativas promoções em muitas lojas retalhistas e grandes armazéns – que aproveitam para esvaziarem seus estoques. A Black Friday é tradicionalmente realizada um dia depois do Dia de Ação de Graças nos Estados Unidos – país que inaugurou a “festividade capitalista” com a ajuda das novas tecnologias.

Relatos da denominação “Black Friday” existem desde os anos 90, quando a polícia da Filadélfia utilizava o termo para se referir à “ressaca” do Dia de Ação de Graças, quando haviam muitas pessoas no comércio e congestionamentos gigantescos. Hoje, trata-se da data mais agitada do varejo no país, onde muitas lojas abrem antes do horário comercial, e centenas – as vezes, milhares – de pessoas aguardam em filas enormes.  A Black Friday é um evento tão massivo nos EUA que alguns trabalhadores tiram o dia de folga para se tornarem consumidores com maior potencial.

A data tomou proporções tão grandes que se espalhou pelos mais diversos países ao redor do globo, inclusive no Brasil. Nossa primeira Black Friday aconteceu no ano de 2010 e foi totalmente online. A data reuniu mais de 50 lojas do varejo nacional. Em pouco tempo, tornou-se um sucesso. Em 2013, a Black Friday brasileira alcançou o surpreendente faturamento de 770 milhões de reais em comércio online. Os produtos mais almejados são televisores e smartphones. A média de desconto para aparelhos celulares foi de 16% e para televisores chegou a 19%. De acordo com dados da consultoria E-Bit, em 2014 a Black Friday gerou R$1,2 bilhão em vendas somente na internet, que corresponde a 3,5% do faturamento anual, consolidando o evento como o mais importante para o comércio online.

Apesar de ser uma data extremamente positiva para comerciantes e consumidores, o “jeitinho brasileiro” sempre dá um jeito de mostrar as caras: na ocasião, alguns lojistas elevam deliberadamente o preço dos produtos antes da Black Friday para poder anunciá-lo por um preço mais baixo durante o evento, de modo a fazer o consumidor acreditar que está fazendo um bom negócio. Por conta disso, o Procon se vê obrigado a realizar o monitoramento dos preços a fim de evitar fraudes – o órgão criou, inclusive, uma listagem de e-commerces não confiáveis.

Nesse sentido, a compra racional se torna uma estratégia essencial não apenas para fugir das fraudes, mas também para evitar o fantasma do endividamento que tem rondado as casas dos brasileiros. A compra por impulso faz parte da cultura do cidadão médio, sem educação financeira e noções básicas de gestão. Cultivar o consumo consciente é uma medida urgente em nossa sociedade, já que o ato de consumir afeta não só a parte financeira de nossas vidas, mas também o meio ambiente, a economia do país e a sociedade como um todo. O consumo consciente envolve a reflexão sobre os nossos hábitos de consumo, estar atento à real necessidade do que consumimos e aos possíveis impactos que uma compra pode causar.

Pensando estrategicamente, o crescimento sustentável leva em conta aspectos políticos, ambientais e sociais, além dos econômicos, e isso tudo pode estar interligado direta ou indiretamente. O tema está sendo amplamente discutido em diversos âmbitos da nossa sociedade, tendo sido constantemente comentado entre os líderes mundiais da atualidade. Com as constantes crises econômicas e a limitação cada vez maior de nossos recursos naturais, pensar formas responsáveis de levar riqueza e aumentar a qualidade de vida das populações necessitadas sem aumentar os impactos negativos da ação do homem na natureza precisa se tornar um assunto protagonista da agenda pública internacional.

Para ser sustentável é necessário que haja a preocupação com o crescimento econômico, associada ao cuidado com as questões sociais e ambientais. Pensar sustentabilidade é pensar o aumento da produção econômica e de capital com o mesmo peso do aumento da qualidade de vida da população. O crescimento sustentável em sua essência se faz concreto quando o povo passa a ter mais acesso tanto às políticas públicas, participando e decidindo democraticamente o destino de suas comunidades, quanto às riquezas produzidas, tendo disponibilidade de vagas de emprego e diminuindo a desigualdade de renda. Além disso, são partes de uma economia sustentável a seguridade social, que cuida para que aqueles que estão afastados das atividades produtivas (como crianças, desempregados, doentes e idosos) possam se beneficiar do crescimento econômico, e a educação emancipadora com cidadãos conscientes e politicamente ativos.

O mundo político vive sua maior crise em termos de corrupção ativa e passiva. Em se tratando de Brasil, há uma explosão demográfica em nosso país: a renda per capta dos brasileiros é uma das menores do mundo e o capitalismo selvagem concentra mais de setenta por cento das riquezas naturais no poder dos ricos. Assim, não há como sustentar uma Black Friday anual que seja capaz de satisfazer a todos consumidores com grande potencial.


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