Façam suas apostas: o jogo começou!
Posted on 6 de outubro de 2018
Nascido do latim “jocus”, que significa gracejo, brincadeira ou divertimento, os jogos são atividades de natureza física ou intelectual que integra um sistema de regras e define um indivíduo (ou um grupo) vencedor e outro perdedor. Dentro desse sistema de regras, destaca-se a figura do jogador, indivíduo ativo e praticante que, dentro das regras, precisa traçar a melhor estratégia para conseguir o melhor resultado para si (ou sua equipe) entre os demais participantes.
Os jogos têm ocupado um papel de destaque na civilização humana, sejam eles de caráter físico ou intelectual. Para ilustrar essa importância, basta olharmos o prestígio dos Jogos Olímpicos, que atravessou centenas de anos e inúmeras culturas. Os jogos fazem, inclusive, parte de nosso linguajar, dados os sentidos figurados que tomam nas expressões populares – como em “abrir” ou “esconder” o jogo, “virar o jogo”, “jogo de cintura” ou “fazer o jogo de fulano”.
Mas talvez o jogo mais importante para a sociedade seja o jogo – nem sempre tão limpo – da política. Desde as primeiras civilizações humanas, ela faz parte de nossas vidas. Trata-se de uma questão de civilidade, organização e sobrevivência, seja no meio público, corporativo, acadêmico e até mesmo doméstico. Infelizmente, o termo “política” tem adquirido uma conotação negativa, graças aos inúmeros escândalos de corrupção e desvios de conduta em que nossas classes políticas e empresariais têm se envolvido. A autora Margaret Morfor já ilustra esta problemática, quando afirma que ser político virou sinônimo de manipulação da vontade do outro, de comportamentos negativos e de não falar a verdade.
Falamos aqui, portanto, de um jogo que deveria envolver alianças, fidelidade política e partidária, estratégias de desenvolvimento e aprovações de leis e projetos que favoreçam a população e prezem pelo bem comum. Mas, para a nossa tristeza, o que estamos vivenciando no Brasil – principalmente em períodos eleitorais – é um jogo para lá de sujo, recheado de mentiras, falsidades, egoísmos, sede de poder e desrespeito pelas regras (no caso, a Constituição Brasileira).
Nosso jogo político está cada vez mais parecido com os jogos de azar, onde o blefe – a mentira, a enganação e o ato de ludibriar incautos – parece ser cortesia da casa. Nele, a maior aposta é o blefe: tal qual um jogador de pôquer buscando a vitória, uma ação política tem sempre um objetivo não revelado, para surpreender o adversário e atingir o resultado esperado. Não há, nesta “mesa” (ou seja, o meio político), verdades absolutas ou mentiras cabais. E o povo brasileiro, descrente com seus líderes, governantes e até mesmo com seu sistema político, desistiu de interpretar e conhecer as entrelinhas do jogo político. Estamos, enquanto sociedade organizada, incapazes de enxergar as segundas intenções que se escondem por detrás de uma aparente realidade.
Além da descrença no sistema, outra característica marcante do jogo político tem tornado ainda mais difícil nossa compreensão dos movimentos dos jogadores: a insistência das chamadas “fake news” (“notícias falsas”, em português) no ambiente online e suas consequências para o processo eleitoral, já que, atualmente, as redes sociais têm conseguido um papel de destaque em relação às mídias tradicionais – abrindo, inclusive, novas possibilidades de organização social e de vocalização de demandas, desde causas humanitárias a discursos de ódio. Ou seja, embora possuam aspectos positivos, as redes sociais também são criadoras de instabilidades na democracia convencional. Não é por menos que, na medida que eclodem “Fake News” nas redes sociais, as pesquisas se alteram.
É inegável o domínio dos meios de comunicação em nossa sociedade contemporânea – e esta afirmação é quase unânime. Se, por um lado, este fenômeno desencadeou um aumento em nossa percepção de mundo, por outro os meios acabaram ganhando cada vez mais relevância. Entretanto, os aparatos de comunicação estão concentrados nas mãos de alguns grupos e famílias – fato que contrasta a ideia de uma sociedade na qual a soberania popular é o fundamento das decisões políticas.
Pensando estrategicamente, enfrentamos duas situações complicadas para a nossa democracia. Em primeiro, temos o grau de pluralidade reduzido do debate público, onde incidem não apenas as regras de concessão e a concentração relativa do mercado de mídia, mas também o surgimento da imprensa alternativa e o atual domínio das redes sociais no ambiente online. Em paralelo, temos os grandes interesses da sociedade – educação, segurança pública, saúde, emprego e renda – presos no limbo do “jogo político”, estando relegados a um segundo plano, sempre à espera das decisões desse jogo que invariavelmente acaba sendo ganho pelos mesmos jogadores e nunca pelo grupo mais prejudicado: o povo, verdadeiro protagonista desse jogo que é a sociedade, que sempre perde e continua a espera de outra oportunidade para jogar novamente.
É o jogo da vida, muito dolorido em alguns momentos, pois não se ganha sempre… Isso, porém não significa dizer que o meio político é um ambiente totalmente inconfiável.
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