Dos piores, o melhor
Posted on 20 de agosto de 2018
A vida é feita de escolhas. Desde a infância, somos ensinados a realizar nossas próprias escolhas e nos tornarmos indivíduos independentes. Começamos de forma mais humilde: com nossas roupas, nosso lanche da escola. Depois de um tempo, elas vão ficando mais complexas. Passamos a escolher nossas companhias, relacionamentos, carreira… fatores que definirão nosso futuro e, muitas vezes, toda a nossa vida.
Mas, afinal, no que consiste uma escolha? Bom, sua definição é, na realidade, bem simples: uma escolha acontece quando, em uma situação X onde existem mais de uma opção ou saída, os personagens envolvidos precisam optar por uma delas. Geralmente, opta-se por aquilo que é mais conveniente para sua situação ou aquilo que mais se encaixa às suas perspectivas de vida. Por definição, escolhas são coisas simples, meras questões ligadas à gostos pessoais e conveniências. Mas, na prática, boa parte das escolhas da vida adulta possuem uma complexidade ímpar. Na realidade – ou “na hora do vamos ver”, como diz o dito popular –, escolher aquilo que é melhor para você não é uma tarefa simples.
Para serem bem-feitas e assertivas, escolhas requerem horas de estudo, reflexão e análise. Nem tudo é preto e branco – na verdade, a vida está mais para um arco-íris, ou mesmo uma escala RGB. Uma escolha específica pode afetar um panorama geral muito maior, influenciando em diversos âmbitos e intervindo em escolhas futuras ou passadas. Por isso, ela deve ser feita com cautela – principalmente quando envolve outras pessoas, como seus amigos, família, colegas de trabalho, sua cidade e até mesmo seu país.
Já adivinhou do que estou falando? Aí vai uma dica: esse assunto tem sido bastante recorrente nesse espaço de conversa e trata-se, provavelmente, da escolha mais importante da vida adulta: o voto. No regime republicano e democrático, sob o qual é organizado o aparelho político e burocrático do Brasil, o voto popular exerce um papel de soberania: sem ele, toda a sociedade se desestrutura, e a democracia e a liberdade de expressão passam a ser comprometidas.
Mesmo sendo de suma importância para a organização do Brasil enquanto nação, muitas pessoas não têm consciência do peso do voto e acabam escolhendo seus candidatos como, na infância, escolhiam sua merenda escolar – utilizando como critério apenas os gostos pessoais e até mesmo coisas supérfluas como a aparência e a camada social à qual pertence o candidato. O resultado? Escolhas equivocadas e malsucedidas, que acabam comprometendo todo o nosso aparelho político e burocrático por quatro anos – ou mais, dependendo do nível de sucesso ou fracasso da gestão escolhida pela maioria da população.
A cada semana, nos aproximamos mais e mais das Eleições de 2018, que elegerão representantes dos poderes executivo e legislativo nos âmbitos federal e estadual, como comentamos na semana passada. Nesta semana, inicia-se o “circo” midiático: as campanhas políticas. Com a chegada da época eleitoral, começam também os debates televisionados, onde os candidatos à presidência e aos governos estaduais apresentam suas propostas e questionam os “rivais” sobre seus planos de governo e posicionamentos políticos.
Recentemente, ocorreu o primeiro desta série de debates, transmitido pela Band e intermediado pelo jornalista Ricardo Boechat. O evento contou com a presença de oito dos treze presidenciáveis anunciados até o momento: Álvaro Dias (Podemos), Cabo Daciolo (Patriotas), Ciro Gomes (PDT), Henrique Meirelles (MDB), Jair Bolsonaro (PSL), Geraldo Alckmin (PSDB), Guilherme Boulos (PSOL) e Marina Silva (Rede). Os telespectadores e internautas que acompanhavam a transmissão esperavam por um debate à altura dos problemas socioeconômicos enfrentados pelo país, mas o que se sucedeu foi um show de horrores que nos fez sentir saudades dos presidenciáveis das Eleições 2014: candidatos despreparados, com discursos prontos, ideias mirabolantes, propostas rasas e interessados apenas em repercutir a polarização que toma conta das redes sociais. O cenário, que já não estava favorável para o Brasil, parece cada vez mais apocalíptico.
Pensando estrategicamente, a hora de fazermos uma das escolhas mais importantes de nossas vidas se aproxima, e nos encontramos em uma situação caótica onde precisamos escolher dentre os piores, o melhor. Nossas opções são limitadas e nem um pouco satisfatórias, mas, ao mesmo tempo, urge um processo de renovação e reestruturação em nosso aparelho político e burocrático – um processo que fortaleça a democracia e busque o diálogo com os movimentos sociais e as mais diversas camadas da sociedade. Por isso, precisamos realizar escolhas assertivas por meio do estudo, da reflexão e análise. Afinal, as escolhas realizadas no dia 7 de outubro repercutirão em nosso país pelos próximos quatro anos ou mais.
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